Happiness is the truth
Homens e mulheres experimentam a felicidade de formas diferentes
Mais do que saber quem é mais feliz é preciso compreender que homens e mulheres experimentam a felicidade de maneiras diferentes
Por Lowri Dowthwaite*
The Conversation
Mais do que saber quem é mais feliz é preciso compreender que felicidade é diferente para mulheres e homens
| Foto: Bigstock
Quem é mais feliz? Homens ou mulheres? As pesquisas mostram que essa é uma questão complicada e que na verdade perguntar se são os homens ou as mulheres os mais felizes não é muito útil, porque essencialmente a felicidade é diferente para mulheres e homens.
A felicidade das mulheres tem estado em declínio nos últimos 30 anos, de acordo com estatísticas recentes. Além disso, elas têm duas vezes mais chances de ter depressão do que os homens. As diferenças de gênero em relação à depressão estão bem estabelecidas e estudos mostram que fatores biológicos, psicológicos e sociais contribuem para essa disparidade.
Mas pesquisas também mostram que as mulheres são mais propensas a experimentar emoções positivas intensas, como a alegria e a felicidade. Então, isso contrabalança o seu risco mais alto de depressão. As mulheres, aliás, são também mais propensas a buscar e obter ajuda e a procurar tratamento – o que faz com que elas se recuperem mais rápido.
Os primeiros estudos sobre a relação entre gênero e felicidade constataram que homens e mulheres são influenciados pela sociedade para expressar emoções diferentes. As mulheres tendem a expressar felicidade, carinho e medo, o que ajuda a se conectar socialmente e se alinha com o seu papel tradicional como cuidadora primária, enquanto os homens expressam mais raiva, orgulho e desdém, o que é mais consistente com o papel de protetor e provedor.
Neurologia
Pesquisas recentes sugerem que essas diferenças não são apenas sociais, mas neurológicas. Em vários estudos, as mulheres apresentam uma pontuação melhor do que os homens em testes padrões de reconhecimento de emoções, sensibilidade social e empatia.
Estudos neuroimagiológicos investigaram essas descobertas com mais detalhe e descobriram que, ao processar emoções, as mulheres usam mais áreas o cérebro que contêm neurônios-espelho do que os homens. Os neurônios-espelho fazem com que experimentemos o mundo desde a perspectiva das outras pessoas, entendendo suas ações e intenções. Isso talvez explique por que as mulheres experimentam a tristeza de forma mais profunda.
Psicologicamente, parece que homens e mulheres diferem na forma de processar e expressar emoções. À exceção da raiva, as mulheres experimentam emoções de maneira mais intensa e compartilham-nas mais abertamente com outras pessoas. Em particular, estudos descobriram que as mulheres expressam mais emoções pró-sociais – como a gratidão – que estão relacionadas com uma felicidade maior. Isso apoia a teoria de que a felicidade da mulher é mais dependente de relacionamentos do que a do homem.
A raiva
No entanto, esses estudos têm um ponto cego significativo – o fato de que as mulheres sentem raiva com tanta intensidade quanto os homens, mas não a expressam abertamente porque isso não é visto como socialmente aceitável.
Quando os homens sentem raiva, são mais propensos a vocalizá-la e dirigi-la a outras pessoas, enquanto as mulheres tendem a internalizá-la e dirigi-la a si mesmas. As mulheres ruminam em vez de pôr para fora. E aí que está a vulnerabilidade da mulher ao estresse e a depressão.
Estudos mostram que os homens têm maiores habilidades de resolução de problemas e maior flexibilidade cognitiva, o que pode contribuir para uma maior resiliência e um humor mais positivo. A reatividade das mulheres ao estresse torna mais difícil para elas desafiarem seu pensamento às vezes e isso pode aumentar os sintomas de mau humor.
Prioridades
Essa desigualdade na felicidade significa que é mais difícil para as mulheres manter um estado feliz quando confrontadas com expectativas e restrições sociais. Pesquisas sobre o estresse mostram que as mulheres são mais reativas fisicamente à rejeição social em comparação com os homens, por exemplo. Isso significa que elas tendem a priorizar as necessidades dos outros às suas – e com o tempo isso pode levar ao ressentimento e à insatisfação.
As mulheres em geral priorizam fazer o que é certo em relação a ser feliz, enquanto os homens preferem ir atrás do prazer e do hedonismo. Estudos também descobriram que as mulheres tendem a agir mais eticamente do que os homens e são mais propensas a sentir vergonha quando aparentam não estar fazendo "a coisa certa". Mas a moralidade feminina também as leva a se engajar em trabalhos que trazem mais realização e impacto. E isso, no fim das contas, as leva a maior alegria, paz e contentamento.
Como você pode ver, o cenário é complicado. Sim, as mulheres são mais sensíveis ao estresse, mais vulneráveis à depressão e a traumas, mas também são incrivelmente resilientes e significativamente mais capazes de crescimento pós-traumático do que os homens. Estudos mostram que isso se deve à sua sociabilidade e habilidade de se conectar com os outros – tanto homens quanto mulheres – em um nível mais profundo.
Também é importante reconhecer que, apesar dessas diferenças, os benefícios da felicidade estão ao alcance de homens e mulheres. A pesquisa mostra que a felicidade não é meramente uma função da experiência individual, mas que ela navega através das conexões sociais. A felicidade é contagiosa e transmissível – e tem um impacto positivo na saúde e no bem-estar de todos.
*Professora de Intervenções Psicológicas na University of Central Lancashire, na Inglaterra.
©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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